Ontem eu fui a um chá de panela. Mais
um chá de panela. Mais uma amiga passando pro lado de lá – o das casadas. Em setembro
foi uma, agora em outubro será outra. Não vou filosofar sobre o casamento,
calma, não precisa abandonar a crônica ainda. A amiga solteirona aqui não é
amarga... É só que hoje acordei pensando em como o tempo voa e todo esse blablablá
que os velhos repetem incessantemente, e que tenho começado a repetir de forma
preocupante.
Ironias da vida, quando eu estava
com 23, tentei me autoconsolar quando percebi que todos os meus amigos estavam
se formando. Até a minha formatura do prezinho parecia ter sido ontem, como era
possível que todos estivessem agora formados?! Poucos anos antes, eu olhava
meus primos mais velhos fazendo faculdade e os via como verdadeiros adultos, e agora
os meus contemporâneos já falavam da graduação como uma coisa antiga. Como era
possível o tempo ter passado assim tão rápido?
Nunca tive medo de envelhecer, mas
não queria ficar me chocando com a inexorabilidade do tempo toda hora, então arrumei um fútil consolo mental: “só vou me sentir realmente velha quando
eles começarem a se casar”. Menos de uma semana depois, envelheci. Andando
desprevenida na rua, encontrei um amigo do ginásio - um dos melhores -, e fui bombardeada
com a singela notícia de que, do nada!, ele se casaria. Os pais da namorada
estavam se mudando da cidade, ela não queria ir, e o casamento pareceu a
solução mais lógica. Simples assim. Meu primeiro amigo se casou.
Depois disso não houve trégua, o
massacre foi brutal. De lá pra cá, já vi casando uma infinidade de ex-colegas
de turma e conhecidos. Só de grandes amigas (com “a” mesmo, os homens parecem mais
temerosos quanto à forca) já foram nada mais nada menos que oito! Tem amiga que
até se casou duas vezes, curiosamente com o mesmo cara! Convites, presentes, despedidas
de solteiro, cerimônias religiosas, festas, ressacas homéricas, bem-casados...
Estou perdendo a conta de quantos vestidos longos já tenho estocados no meu
guarda-roupa.
Depois que os casórios começaram
a aparecer, andando quase que em fila indiana, pensei em arrumar um outro
consolo psicológico. Tentei este: “só vou me sentir realmente velha se eles, por
algum infortúnio, começarem a se divorciar”, mas a sensação de que me manteria despreocupada por muito tempo foi bem passageira; o primeiro a se casar, separou-se em
tempo recorde. “Só vou me sentir realmente velha quando eles começarem a procriar”
foi uma ideia natimorta, lembrei-me de que uma amiga apressada já tinha tido
filho antes de subir ao altar. Desde então, estou à caça de uma desculpa
esfarrapada para dar a mim mesma... Mas qual?
Qual?? Ontem, entre um shot de Pisco
e outro, formulei a seguinte: “só vou me sentir REALMENTE velha quando
começarem a nascer cabelos brancos”. Te parece um bom consolo psicológico? Pelo
meu histórico familiar, posso garantir que sim; é possível que leve uns bons anos
ainda, mas, conhecendo minha antiga rixa com Murphy (que parece ter criado
aquela lei só pra me aporrinhar!), pode ser também que, de sacanagem, o universo
conspire contra mim e me dê uns três fios branquelos nesta madrugada... Medo!
Quer saber? Não sei mais o que inventar,
qualquer coisa que me console agora vai ficar obsoleta depois. Quer saber de
novo? Esta crônica envelheceu... Cansei dela, vou publicá-la e esquecê-la. Você
que se sinta velho se se identificar comigo! Vai entender que uma boa dose de
alienação é frivolamente necessária.