domingo, 30 de setembro de 2012

Procura-se um consolo psicológico


Ontem eu fui a um chá de panela. Mais um chá de panela. Mais uma amiga passando pro lado de lá – o das casadas. Em setembro foi uma, agora em outubro será outra. Não vou filosofar sobre o casamento, calma, não precisa abandonar a crônica ainda. A amiga solteirona aqui não é amarga... É só que hoje acordei pensando em como o tempo voa e todo esse blablablá que os velhos repetem incessantemente, e que tenho começado a repetir de forma preocupante.

Ironias da vida, quando eu estava com 23, tentei me autoconsolar quando percebi que todos os meus amigos estavam se formando. Até a minha formatura do prezinho parecia ter sido ontem, como era possível que todos estivessem agora formados?! Poucos anos antes, eu olhava meus primos mais velhos fazendo faculdade e os via como verdadeiros adultos, e agora os meus contemporâneos já falavam da graduação como uma coisa antiga. Como era possível o tempo ter passado assim tão rápido?

Nunca tive medo de envelhecer, mas não queria ficar me chocando com a inexorabilidade do tempo toda hora, então arrumei um fútil consolo mental: “só vou me sentir realmente velha quando eles começarem a se casar”. Menos de uma semana depois, envelheci. Andando desprevenida na rua, encontrei um amigo do ginásio - um dos melhores -, e fui bombardeada com a singela notícia de que, do nada!, ele se casaria. Os pais da namorada estavam se mudando da cidade, ela não queria ir, e o casamento pareceu a solução mais lógica. Simples assim. Meu primeiro amigo se casou.

Depois disso não houve trégua, o massacre foi brutal. De lá pra cá, já vi casando uma infinidade de ex-colegas de turma e conhecidos. Só de grandes amigas (com “a” mesmo, os homens parecem mais temerosos quanto à forca) já foram nada mais nada menos que oito! Tem amiga que até se casou duas vezes, curiosamente com o mesmo cara! Convites, presentes, despedidas de solteiro, cerimônias religiosas, festas, ressacas homéricas, bem-casados... Estou perdendo a conta de quantos vestidos longos já tenho estocados no meu guarda-roupa.

Depois que os casórios começaram a aparecer, andando quase que em fila indiana, pensei em arrumar um outro consolo psicológico. Tentei este: “só vou me sentir realmente velha se eles, por algum infortúnio, começarem a se divorciar”, mas a sensação de que me manteria despreocupada por muito tempo foi bem passageira; o primeiro a se casar, separou-se em tempo recorde. “Só vou me sentir realmente velha quando eles começarem a procriar” foi uma ideia natimorta, lembrei-me de que uma amiga apressada já tinha tido filho antes de subir ao altar. Desde então, estou à caça de uma desculpa esfarrapada para dar a mim mesma...  Mas qual? Qual?? Ontem, entre um shot de Pisco e outro, formulei a seguinte: “só vou me sentir REALMENTE velha quando começarem a nascer cabelos brancos”. Te parece um bom consolo psicológico? Pelo meu histórico familiar, posso garantir que sim; é possível que leve uns bons anos ainda, mas, conhecendo minha antiga rixa com Murphy (que parece ter criado aquela lei só pra me aporrinhar!), pode ser também que, de sacanagem, o universo conspire contra mim e me dê uns três fios branquelos nesta madrugada... Medo!

Quer saber? Não sei mais o que inventar, qualquer coisa que me console agora vai ficar obsoleta depois. Quer saber de novo? Esta crônica envelheceu... Cansei dela, vou publicá-la e esquecê-la. Você que se sinta velho se se identificar comigo! Vai entender que uma boa dose de alienação é frivolamente necessária.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

A Crônica Interrompida...


Estava sentada num quiosque de praia quando a sacada veio. [... ela simplesmente inventava um jeito de sair, picava a mula.] Arrumei uma caneta emprestada e comecei a acumular tinta esferográfica sobre guardanapinhos vagabundos. [Eu vou ao banheiro, tá?] Percebi, então, algo incrível, que só acontece quando a inspiração vem em hora despropositada, e você, por falta de opção, precisa escrever na frente de outras pessoas: a concentração necessária é inversamente proporcional à que seus companheiros te deixam ter. [Ah, que vidinha mais ou menos!] Foi então que abandonei aquela estória no segundo parágrafo para focar nesta que pediu passagem: a crônica interrompida.

Tudo o que você ler aqui é veridiquíssimo e... [Achei as pombinhas, ficam lá em cima da casa!]... escrito em brainstorming,... [Olha a marca que fica da aliança, não adianta tirar pra disfarçar]... interrompido... [Ah, pega o celular pra mim?]... pelas frases originais que rolam numa mesa de praia. [Não consigo entender pra que você escreve tanto!] Viu só??? I-m-p-o-s-s-í-v-e-l concluir um raciocínio! Até sinto por ter perdido o fio da meada do outro texto, mas... [Ninguém me liga...!]... mas... [Você trouxe pinça?]...  mas... [... vou construir uma casa lá em cima daquela pedra pra mim, e farei um relatório anual de tudo o que acontecer aqui na praia]... MAS estou feliz pela ideia nova que ganhei! [O, Lívia, quanto você cobra pra escrever um livro pra mim?]

Estou com o siricotico de testá-los. [Vou ali ao “mijadouro”] Será que os assuntos mudariam se eu revelasse que eles são o corpus da minha crônica?! [Ele dirige meio roboticamente] Revelo ou não revelo? [A Lívia tem carteira de motorista há 6 anos e não dirige... não dá!] Pronto, achei tema pra mais uma: minha experiência ao volante (ou a falta dela).

[- Quer olhar uma rede baratinha?
– Olhar eu até posso, mas comprar não vou não!
– É bonita, ó!, toda furadinha...
– bom pra soltar pum!]
E eis que finalmente chega um vendedor!!! Faltava o símbolo do comércio ambulante para abrilhantar esta crônica! Aliás, quanto me pagariam por uma se eu saísse de guarda-sol em guarda-sol, entoando “olha a crôôônica, olha a crônica fresquiiinha!”? [Se você soltar essa firula, a calcinha do biquíni desmonta?] Chuto que porra nenhuma, melhor eu apelar pra “uma esmolinha pelo amor de Deus” mesmo se quiser viver de escrita.

[“Solamente una vez...”] Bem, meus companheiros de sol e areia partiram pra cantoria. É uma boa hora para revelar a temática cronical e ver a reação deles. [Olha lá! Tem gente se enfiando no meio do mar, o salva-vidas tá gritando de novo].  Vou contar que...
[- Você não disse que ia ao banheiro?
– Já vou.]
Plano abortado! 

[Ai ai] Atenção, passageiros, entramos num período de não-turbulência de comunicação. Coisa irônica: o que seria ótimo para a estória abandonada, é péssimo pra esta!

(...) (...) (...) Mais de um minuto de silêncio (...) (...) (...). Estamos diante de um texto moribundo.

[- Vamos dar uma volta? Quero ir ali naquelas barracas. Lívia, você fica vigiando as coisas?
– Fico.
– Então nós vamos. Se você sentir saudades, dá um grito...]

(...) (...) (...)(...) (...) (...)(...) (...) (...)  Silêncio absoluto.

Causa mortis da crônica: parada “comunicatória”. Guardo a caneta e os sete pedacinhos de guardanapo escritos.


Cinco minutos depois: [Você está registrando pensamentos?]. É o dono do quiosque.
[- Sim, tô escrevendo uma crônica.
- Que bom, às vezes é dessas observações que nasce um bom livro.]
Digo apenas um bem-humorado “obrigada!”, mas minha vontade é pular da mesa e abraçá-lo em agradecimento. Ufa, interrompida, você está salva! Cato a cansada caneta e mais uma folhinha pra escrever estas seis linhas de ressurreição.