Ontem comecei a escrever uma
crônica que foi interrompida quando meu carcereiro voltou e.... Ah, leia aí que
fica mais fácil de entender. Depois concluo o pensamento:
“Escrevo direto da cadeia. Estou presa
aqui em casa, putíssima porque alguém levou minha chave por engano (ou por
engano a escondeu) e não posso sair. Mais puta ainda porque o motivo da revolta
é que estou perdendo aula do meu cursinho pra Fiscal do ICMS. Ou seja, virei
uma cdf sem escrúpulos. Pqp! Eu podia estar vibrando, eu podia estar roubando,
eu podia estar matando, mas não, estou brava por estar perdendo a-u-l-a! Tinha expectativas melhores acerca
de mim mesma. Aff!!!
A revolta tirou meu entusiasmo pelo
“feliz” tempo livre e só sobrou vontade de escrever e descarregar minha ira,
usando a desculpa esfarrapada de que escrever crônicas é escrever sobre coisas
cotidianas. Já fiquei presa – pra dentro e pra fora – algumas vezes e acho que isso
é um acontecimento corriqueiro (essas coisas acontecem com todo mundo, não
acontecem?), mas ficar brava por perder aula (AULA!) é inadmissível. Deus meu!
u-huuul! Alguém chegou... vou pra
aaaaaaulaaaa!
(Shame on me!)”
Bom, esse foi o caso de ontem. Fiquei
perplexa o resto do dia. No meio da aula de português, me peguei distraída algumas
vezes, lamentando o ser responsável que está se apossando de mim. Depois sacodi
a poeira, mentalizei que fim de semana estava aí e que eu poderia virar o jogo
e, simplesmente, esqueci o acontecimento lastimável. Até agora há pouco. Mas a
história do sábado deplorável que vou contar agora começou há várias horas e
também me leva ao cursinho, onde um simples ato condenou meu dia...
Tomei café.
Sou meio intolerante a café (digo
“meio” porque às vezes passo mal quando tomo um gole e, às vezes, tomo copos e não faz nem cosquinha),
mas como estava dormindo numa aula de raciocínio lógico, achei que valia a pena
correr o risco. Só que - claro! - não valeu. Passei o resto do sábado detonada
por um copinho com 50 ml do maldito líquido preto. Sem conseguir fazer nada que
exigisse movimentos, fiquei prostrada na cama, vendo seriado atrás de seriado
até ser inspirada por uma ideia gorda: vou “comemorar” meu estado de molho me
empanturrando de brigadeiro. Resumindo (e, sem querer, rimando), nos 8 minutos que separaram o
pensamento de esganada da primeira colherada, fui castigada: presenciei um curto-circuito na
tomada do micro-ondas e consegui jogar brigadeiro escaldante na minha mão.
Estou queimada e com dor, prestes
a gastar o resto do dia vendo os últimos episódios de Friends (sim, eu ainda não sei se a Rachel fica ou não com o Ross),
chorando e engordando, e – o mais doloroso de tudo – sofrendo com a descoberta
de que virei uma nerd dos infernos (aliás, amigos do fim de semana passado,
estou tomando a derradeira Satan enquanto escrevo)... Se ainda tenho posição
moral para dar algum conselho: pare de ler esta droga aqui e vá viver. Sabe-se
lá se, em um ou dois anos, a vida também não vai te transformar em um monstro
cedeefoso!
* Homenagem: título à la Friends dublado.