terça-feira, 30 de outubro de 2012

Minidiário da Malhação - Parte 2


16-out-2012

Minidiário, maldito seja o instrutor que me alertou, ontem, de tomar analgésico para aliviar possíveis dores! Tomei. Acordei sem dor, mas psicologicamente abalada, achando que meu treino não serviu de nada e resolutamente decidida a não tomar mais porra nenhuma.

Hoje malhei os braços; aqueles pobres membros que mal aguentam o peso do secador de cabelos fizeram mil e uma acrobacias com halteres. Enquanto eu ralava com míseros dois quilos em cada mão, via senhoras levantando pesos exorbitantes e me sentia ridícula. Um amigo grandão, que, além de engenheiro e músico, é megaforte, disse que não devo me abalar, que no começo é assim mesmo. Ele levou oito anos para ficar como está, e eu tive a impressão de que não aguentaria nem mais oito segundos, mas consegui! Fiz todo o treino sem sair correndo de lá. Teorizo que este amigo deveria receber da academia para desfilar sua musculosidade e incentivar visualmente os despreparados que, como eu, desesperam diante da insignificância de seu conjunto muscular.

Quando já estava indo embora, minha treinadora me brindou com um desses exercícios aeróbicos de matar! De lá fui direto ao banco resolver pepinos. Não consegui cruzar as pernas quando sentei. Precisei pegar a direita com as duas mãos para passá-la sobre a esquerda. Patético.

Saldo do dia: pagamento de língua = aquisição de uma nova cartela de analgésicos.

17-out-2012

Sempre durmo de lado, mas hoje não consegui. Precisei ficar de barriga pra cima, mexendo o mínimo possível as pernas latejantes, e acordei mais de quatro vezes de madrugada quando, por força do hábito, virei-me inconscientemente. Dor... dor... dor!

Como hoje era dia de malhar membros inferiores, mandei a academia pra pqp e passei o dia me arrastando de um lado pro outro da casa, sem coragem de apresentar minha moda claudicante na rua. De noite, meu melhor amigo gay me convidou para vê-lo desempenhar a doméstica empreitada de lavar e passar roupa. Resolvi assisti-lo bebendo cerveja. Eureka!

Saldo do dia: “descobrimento” de que cerveja é o melhor relaxante muscular que há.

18-out-2012

Com pavor de malhar perna, fiz braço mais uma vez. Tudo correu incrivelmente bem até que, nos últimos dois minutos, fui cruelmente atacada pelo pedal da bicicleta, que se vingou do meu descoordenado pé, esmurrando minha pobre canela.

Saldo do dia: sai do exercício matinal com uma significativa lasca de pele a menos.

23-out-2012

Minidiário (devia trocar seu nome pra Mini-relatos-ocasionais, visto que você já não é mais diário), hoje a academia conheceu o poder destrutivo de minhas mãos: estraguei um aparelho, ao tentar ajudar a amiga-ex-bailarina a regulá-lo.

Saldo do dia: iniciação de novena ao Santo Halter para que minha próxima mensalidade não traga o valor do conserto do equipamento arruinado.

(Continua... Caso minhas atrapalhadas também continuem)


segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Minidiário da Malhação

Nossa, que nome horroroso eu escolhi pra você, minidiário! Estou ciente de que pareço uma adolescente que assiste à série global infinita (a título de atestado de sanidade mental: meu interesse por Malhação acabou junto com a adolescência), mas fiquei com medo de que “Minidiário da Academia” criasse expectativas acadêmicas que – obviamente – eu não poderia suprir. Enfim, o nome é esse e que se dane!

Fiz balé onze anos e, depois disso, nunca mais durei em exercício algum. Já entrei duas vezes na musculação e fiz aero-jump, mas minha temporada mais longa durou só dois meses! Pra ser franca, nas aulas obrigatórias de educação física da escola, eu enrolava o máximo que podia para fazer o mínimo que podia. Assim que tive consciência de que possuía alguma autonomia sobre minhas vontades, passei a exigir atestado médico, atestando qualquer coisa que camuflasse minha real deficiência: corpo mole (não literalmente - na época, os 15 anos ajudavam). Mesmo o balé, que fiz por tanto tempo, era um mix de várias coisas que não incluíam amor genuíno. Pressão materna descarada e maria-vai-com-as-outrices de acompanhar a melhor amiga (que, infelizmente e por gosto, matriculava-se religiosamente todo ano na escola de dança) eram as maiores delas. Outra, um tanto mais pessoal, era baseada num sentimento verdadeiro: eu amava os dias de festival no Teatro Capitólio. Hoje vejo que era mais amor pelo palco, pelas luzes e pelas carinhas conhecidas que tinham perdido tempo e dinheiro só para ver-me dançar do que pela arte da dança em si. Mas não importa, aquele fim de semana de festival fazia todos os intermináveis pliès, degagès e pas de bourrèes valerem a pena.

Segunda, 15-out-2012

Apesar do passado que me condena, comecei hoje a malhar, minidiário. Estou empolgadíssima! Claro que não foi uma coisa espontânea, afinal, pra certos “tormentos” eu preciso de uma longa preparação psicológica, mas alguns fatores me incentivaram. Podia fazer uma lista grande, mas vou me resumir ao mais vexaminoso deles: após oito anos de sedentarismo, não aguento com o peso do meu secador de cabelos! Triste realidade. Deixei o corpo mole (agora em linguagem denotativa) de lado e resolvi enfrentar pesos e aparelhos; espelhos e biquínis; medidas e instrutores.

A coisa mais legal de hoje foi a coincidência: adivinhe na companhia de quem fui me matricular? Justamente daquela melhor amiga que tanto amava o balé e que agora também está (estava!) sedentária. E aí... Chegando lá... Quem malhou ao nosso lado? Nossa antiga professora de dança. Essas coisinhas, bobas pra maioria das pessoas, são, para mim, o tipo de simbolismo que faz da vida uma verdadeira delícia! Só mais uma: encontrei lá também um amigo querido da época do colegial que me intimou em um dos intervalos entre séries de 15: por que você não faz uma crônica sobre a academia? Desafio aceito!

Saldo do dia: pernas excessivamente trêmulas (durante os exercícios) + rápidos momentos de queda de pressão = sensação de que eu sou foda e de que, logo, comprarei um espelho maior.

(Continua...)

sábado, 13 de outubro de 2012

Tédio Mortal


Tédio... tééédio... t-é-d-i-o...
Tédio devia ser coisa proibida no horário em que - pra mim - o sábado está começando, ou seja, na madrugada de domingo. Estou tão afundada em tédio que, depois de ficar deitada por mais de 2 horas pensando em me levantar, resolvi escrever pra jogar sobre você meu desalento e ver se, milagrosamente, ele passa.

Socorri-me do Houaiss pra definir o meu estado tedioso: “1 – sensação de enfado produzida por algo lento, prolixo ou temporalmente prolongado demais. 2 – sensação de aborrecimento ou cansaço, causada por algo árido, obtuso ou estúpido. 3 – sensação de desgosto, ou vazio, sem causas claras.” Bingo!!! É isso! Sem tirar nem pôr. Meu sábado passa lento e prolixo; está árido e vazio, deixando-me estúpida e desgostosa.

Depois do almoço, percebi que não tinha nada pra fazer a não ser arrumar meu quarto, que passou por uma reforma e aparenta ter sido cenário da 3ª Guerra Mundial. Passei o “programão” pra frente. Então, fiz tudo o que sonho em fazer nos dias de semana em que estou super atarantada e sonhando com um tempo livre: fiquei deitada em berço esplêndido all day long, lendo e assistindo episódios e mais episódios de uns seriados em que estou viciada. Só levantei pra tomar banho e comer. Ironias da vida (ou seria expiação?), umas 10 da noite o prazer da preguiça se transformou num show de horrores: minha cama criou prego e percebi que não tinha nenhuma companhia pra me arrancar de casa. Já tem uns 5 meses que tô treinando pra ermitã, mas hoje o processo estourou. Fiquei esfuziada.

Tendo que ficar em casa, comecei a levantar minhas reais possibilidades:
- Ler uma revista? – NÃO, OBRIGADA!
- Criar vergonha na cara e organizar parte dos destroços do meu quarto? – NEM A PAU!
- Depilar a perna? – TALVEZ... AH, MELHOR NÃO....
- Ligar a TV e ver Zorra Total? – CLARO, CONTANTO QUE EU ESTEJA ACOMPANHADA DE VENENO DE RATO.
- Apelar pra distração virtual – NHÉ!, TUDO BEM, É O QUE TENHO PRA HOJE.

Então apelei pra distração virtual, mas ela foi tão limitada quanto minha criatividade “anti-tediana”. Li meus e-mails (só tinham dois pra responder), cacei amigos virtuais (mas parece que hoje todos estão tendo um sábado-como-se-deve-ter) e entediei de novo. Acabei aqui, escrevendo... Tinha esperanças de que o “esforço” me rendesse o sono da misericórdia, mas já estou no final, ainda mais entediada e nem de longe sonolenta. Como é bom ter insônia e prorrogar as horas arrastadas de um dia que já podia, há muito, ter terminado! Assim como minhas lamúrias.

HAHAHA! Surpresas da noite: quando estava quase clicando o botão para enviar a crônica, minha amiga “brasiaustraliana” me fez dar um pulo de susto aqui: o toquinho de chamada pelo vídeo me tirou do marasmo. Ela está num churrasquinho e exibiu a amiga tupi-guarani de pijama e descabelada pros amigos de Sydney. Mas valeu! Fiquei contagiada com a alegria alcoolizada deles. E também com inveja: lá o sábado já acabou!

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Djóia


Soube agora da notícia: o Joia (leia-se Djóia) morreu. Vou homenageá-lo rememorando a seguinte história:

Uma vez, uns amigos que estavam no calçadão foram abordados pelo chavão do Joia: “Dá 10 centavo aí, Joia?”. Eles juntaram umas moedinhas lá e as deram, de bom coração, pro pedinte mais querido da cidade. Ele fez sua matemática, separou algumas pratinhas e as devolveu, dizendo “eu só pedi 10 centavo”!

Infelizmente, meu conhecimento “joístico” acaba por aqui. Conheci pouco do homem que todos conheciam. Mas sempre o vi na rua, já lhe dei “10 centavo”algumas vezes e sempre nutri por aquela figura um carinho especial. É uma coisa meio particular minha, mas sempre devotei grande respeito aos que encontram seu rumo no caminho “descaminhado”. 

Pra minha felicidade contemplativa, Cruzeiro é uma cidade lotada de tipinhos únicos. Me lembro de ter visto o melhor número de dança rolando solto num fim de sábado no calçadão da cidade. Eram quatro os mendigos dançarinos do asfalto. Cada um com seu passado, cada um com sua noia, cada um com sua graça; todos retribuindo as dificuldades que a vida lhes deu com o mais sincero dos balés. Dentre eles, o Joia, nosso Jimmy Hendrix valeparaibano, apresentava seus melhores passos e vibrava diante do olhar divertido de um público que reconhecia que ele brilhava mais do que os vários colares que viviam adornando seu pescoço.

Com o Joia, morre um ícone de Cruzeiro; com ele nasce – para mim – a sensação boa de crença renovada no ser humano. Escrevo verdadeiramente comovida por ter visto no Facebook tantas homenagens ao cara que com seus humildes “10 centavo” soube enriquecer a história de Cruzeiro. Obrigada a todos que hoje deixam o preconceito de lado para homenagear um homem que, ao seu modo, fez diferença.